Perrengues divinos de uma escriba – Capítulo 1


Minha história começa muito antes do meu nascimento. Quando eu ainda era uma linda anjinha lourinha e de olhos azuis (todos sabem que no Céu não há anjos nem anjas de outras etnias, além das “clarinhas”, tipo aquele Jesus galã australiano que vemos nas pinturas).

Então, foi naquele momento, quando eu ainda não era humana, que Deus, Ele próprio, chegou para mim e puxou um papo. Mas todos sabemos que Ele, Deus, não puxa papo assim, como um qualquer. O evento foi mais impactante.

Estava eu colhendo lindas Margaridas no Jardim Celestial, depois de dar uma piscada para Abraão, quando, de repente, tudo tremeu. Não podia ser uma placa tectônica, visto que no Céu não tem chão (nem pão). O tremor era, nada mais, nada menos, do que O Todo Poderoso me chamando para um papo reto (não falei que Ele nunca age como um qualquer?). Saí correndo destrambelhada! Lá sou besta de chegar atrasada ao chamado d´Ele?

Depois de correr uma verdadeira prova de resistência de BBB flopado, finalmente, dei de cara com Ele, que estava em seu trono, como sempre, plácido e superior, como se não tivesse nada a ver com a merda que rola no mundo. Enfim, a hipocrisia.

Foi aí que veio a bomba. E Deus falou pra mim, na lata.

– Tua missão é ser escriba na Terra. Vai encarnar como roteirista de TV e autora e diretora de teatro.

Eu me desesperei.

– Tenha piedade, Senhor! Não posso ser advogada de oligarca russo? Embaixadora de marca de batom escroto? Consultora da XP?

Ele foi inflexível.

E assim, encarnei no Rio de Janeiro. Não lourinha e de olhos azuis como quando era anja, mas morena com traços luso-brasileiros. Não demorou muito (para os tempos celestiais, porque pra mim foi uma eternidade) para me tornar autora e diretora teatral e roteirista de TV.

E aí, começou meu carma.

(continua semana que vem…)


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